
LARA LIMA
LORETA DIALLA

MARTA AURÉLIA
CLAU ANIZ
KAYE DJAMILIÁ
THAÍS DE CAMPOS
AMRITA JONES
Como tocar o que nos toca?
Esta foi a pergunta disparadora feita para as 7 artistas-pesquisadoras que participam do MINA - Ciclo de Pesquisa e Criação em Arte Sonora, novo projeto do ATERRA FLECHA – movimento de música, performance e artes sonoras femininas do Ceará.
Tendo a mina como metáfora do encontro, deixando emergir aquilo que brotava dele, o projeto reuniu as musicistas, cantoras, performers e artistas sonoras cearenses, Clau Aniz, Kaye Djamilia, Lara Lima, Loreta Dialla, Marta Aurélia, Thaís de Campos e Amrita Jones.
O programa de ações, realizado em parceria com a Casa Sônica, em Fortaleza, acolheu os interesses e as singularidades de cada artista, propondo, como pontos norteadores de pesquisa e de produção, as discussões relacionadas à escuta expandida, sonoridades e performatividades vocais, materialidades sonoras, temporalidades do som e sampleamento, eletroacústica, tecnologias digitais e analógicas, produção lo-fi e meios de acessibilidade no processo criativo.
Entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, as artistas puderam desenvolver suas pesquisas individuais, na medida em que trocavam umas com as outras questionamentos e inquietações acerca do seu fazer artístico e das possibilidades experimentadas dentro do projeto. Esse espaço de troca se mostrou essencial para a criação das obras, já que, dentro do campo da arte sonora e da música experimental, é rara a disponibilidade para compartilhamento de pesquisas enquanto processos ainda em desenvolvimento.
Ao longo dos encontros do ciclo, compartilhamos nossas instigações sonoras e criativas em conversas, escutas e vivências coletivas, onde cada uma propôs um experimento, dentro das suas investigações, para realizar com as outras. Foram momentos que moveram o corpo, a escuta, o gesto, o espaço e a escrita, entendendo cada proposição como um movimento de experiência estética, ética e de reflexão crítica em coletivo. O que apresentamos aqui é o resultado desses encontros. As sessões são divididas por cada artista e nelas, além das faixas de áudio, estão também fragmentos que contam um pouco mais de cada trabalho, como um registro dos acontecimentos, aquilo que achamos importante compartilhar.

K A Y E D J A M I L I Á

meus olhos são antenas
meu dedos são antenas
pedi contato e captei as mensagens que trago aqui
o objetivo deste relatório não é provar ou refutar qualquer conjunto de crenças em particular
apesar de ter sido capaz de captar transmissões do pentágono, há aqui apenas rastros da descoberta de tecnologia alienígena, e nenhuma comunicação concreta de fato se deu
não obstante, muitas mensagens humanas foram captadas
a comunicação como uma tecnologia humana coloca a ordem estabelecida em movimento não,
a ordem não
o nosso próprio entendimento de humano e a relação uns com os outros
pedidos de contato com o outro, com o futuro — aqueles que virão—, com companheiros de guerra, com quem possa te salvar da morte, com os próprios mortos
podemos conectar um número ilimitado-limitado de sons e sinais para produzir um número infinito de frases e códigos, cada qual com um significado distinto
as produções sonoras aqui, em seus códigos e frequências, foram capazes de se corresponder com as mensagens que já circulam, com algumas interferências extraterrestres e da rússia comunista
o mundo espiritual também manifesta o seu desejo de fazer contato
mas após o acesso, este portal deverá ser fechado.
crânio
campo magnético
sons bobinas ruídos
cérebro corpo máquina imã
radiofrequência meditação
vasos sanguíneos
cordas cantos
rasgos
falas
ondas
vocais
gemidos urros sussurros ranhuras gritos organismo computador microcosmo
natureza fluxo
prótons pulsos mantras sinais
colonização
traumas dores patriarcado timidez medo opressão
ancestralidades
brincadeiras silêncio
ressonância ressignificação
neuroplasticidade
sensopercepção
protovoz música expansão
imagem imaginação
protons pulsos mantras sinais
liberdade invenção
dança aneurisma
cura experimentação
tecidos vocalização
dramaturgias da voz autonomia
palco arte polifonia outra língua
língua-mãe

M A R T A A U R É L I A



1.
2.

3.


L O R E T A D I A L L A
eu quero fazer um som
como quem faz um drama
no desejo que as ondas das palavras
nos seus gráficos e frequências
construam um imaginário livre
do que não pode ser visto
eu quero fazer um som
como quem faz uma cena
que desenha um roteiro
para as vozes da minha voz
e podem atuar no teatro
dos teus ouvidos
assim, me lanço no feitiço desse som
como quem se lança na magia da cena
para criar uma
verdade inventada
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EU: era real, era... real. eu era... nessa glória do real feitas para os nossos olhos.
pensava ouvir a mim no momento em que ninguém mais fala. eu, no interior da língua quando não havia mais ninguém dentro. eu e ninguém... na fenda estreita onde se revela toda a verdade do grão. o grão é um fantasma que sopra restos de vozes em volta do meu esqueleto. escuto desde a médula alguns nomes de coisas que nunca ouvi e não conheço. rasga um pedaço da minha pele e encontra na veia um pulso
um pulso
um pulso
um pulso de algo
um pulso de algo
um pulso de algo que está
um pulso de algo que está
um pulso de algo que está pedindo
um pulso de algo que está pedindo passagem
passagem
passagem
passagem
passagem
passagem
passagem
passagem
passagem
passagem
scater breath
\
scater word
\
melody bass
\
loop pass
\
real harmony
\
real scater
\
drums to pass

4.


C L A U A N I Z

5.

saltar fragmentos diante do que é ou um dia foi uma tímida promessa. desfigurar acertos e deixar planar os sentidos ancorados às intenções. ou apenas revisitar verso qualquer e sentir de destruí-lo.
16 ch - vz 1, vz 2, vz3 - mtA, mtB - drmrck 7molaarcosample - drmrck bassclarinetsample - midi piano - drmrck pianopésujo - kick 1 basisubboom - kick 2 kicksubdirt - vz 1 sampleslicer - vz 2 cmj16th - vz3 sampleslicer bch16th - loopsample ubqts ¼ +12
palavras sampleadas, martelo sobre aço, arco contra mola, o instrumento que eu não toquei e a palavra que eu não disse. tudo inflama e vira pó; tudo arde, queima e some. tudo o tempo engole, nada sobra ou vinga; restam só o rastros da lembrança.

6.



disse que quase tudo que existe some ao grito do tempo pt. 1

L A R A L I M A
“A natureza fala por sinais e, para compreender essa linguagem, devemos estar atentos às semelhanças da forma.”
Jeremy Narby
campo aberto
corpo aberto
gesto /
voz
tempo espiral
camadas sobrepostas
o som dos seres
escuta como disparador do sensível.
investigação do tempo: dimensão fluida, segredo.
a cadência de um tempo que é dança,
dança que tudo move
corpo/espaço.

7.
PIRABÓIA
pulso e fricções na fibra do coco
assobio que chama o som da chuva
sementes, serpentes na chuva
rajas na casca, pele animal
nasceu do ovo
serpente
bravateou
gritou
jorrou
a voz
a língua
instrumentos percussivos e voz se somam encadeados com efeito de loop e de delay
o arco de violoncelo fricciona as cordas da guitarra com efeito chorus e reverb



O sangue que corre entre minhas pernas a cada ciclo lunar é o mais puro poder da regeneração, da criação, da geração de vida. É inspiração.
O coração é a porta do templo.
Tudo que vivemos está inscrito em alguma parte do nosso corpo.
E o que ainda não foi vivido busca espaço pro viver.
O coração como portal das sensações nos guia.
As emoções disparadas no nosso corpo por acontecimentos e memórias nos afetam, nos criando afecções positivas ou negativas, gerando ações ou inibições.
Anahata Chakra - memória - a inscritura do coração.
639 HERTZ - Equalização e Harmonização do Chakra do coração - memórias?
CURA
As memórias por vezes nos levam a acreditar que as sensações que nos visitam fazem parte do presente, mas muitas vezes já se passou ou ainda não chegou, mesmo o passado e o futuro acontecendo em paralelo no chamado presente.
TRANSFORMAÇÃO
639 HERTZ - Frequência Solfeggio
Seis tons que reequilibram - saúde do corpo e da mente.Frequências graves da ionosfera atingem nosso corpo físico. Picos no espectro de frequências extremamente baixas (ELF) do campo eletromagnético terrestre - Ressonância Schumman
Um conjunto de frequências de ondas eletromagnéticas que se propagam entre a superfície da Terra e a base da ionosfera. É causada pela atividade elétrica do planeta. As frequências oscilam entre 7,7 e 7,9 Hz. Ressonâncias que correspondem a cinco estados de ondas cerebrais: delta, teta, alfa, beta e gama.
Como vai reverberar no meu corpo e no universo?
O Sentir
O Trítono anuncia uma tensão.
O intervalo proibido - 3 tons inteiros entre duas notas. 4a aumentada? 5a diminuta?
Esse intervalo foi considerado um som maldito durante a Idade Média. Quando tocado produz um som dissonante que evoca tensão.
A tensão é importante na música, na dança e na vida. A tensão é importante para enfatizar a necessidade do repouso. Oposition. Oposição.
Como a mistura de sons naturais com sons sintetizados. ELETROACÚSTICA técnica que utiliza métodos elétricos para produzir e reproduzir fenômenos acústicos disse o chat GPT.
sons naturais sons sintetizados Aquarius Age A natureza Cyborg Tenho uma placa de titanium no meu braço esquerdo.
O acesso livre a essa LINGUAGEM do algorítmico 01 0000001000000100000000000001. 000000000000000000111110000000000000000001.


A M R I T A J O N E S


8.
9
POÇÃO DO AMOR
LOVE POTION

Pequenas coisas cotidianas ao meu redor e eu experimentando fazer som com elas.
Experimentando reconfigurar o papel dos objetos domésticos, da casa, da cozinha.
Inventando formas de gravar e capturar esses sons, de tocar as coisas que me tocam.
Como num processo alquímico, o som anima as matérias, aviva os objetos,
lhes devolve uma capacidade de se relacionar de outras maneiras,
para além das suas utilidades e funções,
para além dos gestos recorrentes, abrindo possibilidades,
reencantando os usos e, nesse sentido,
reencantando também o cotidiano banal da casa.
T H A Í S D E C A M P O S

10.

PEQUENAS COISAS



AMRITA JONES é musicista, sound designer, bailarina, terapeuta e pesquisadora sonora. Pesquisa processos de confluência entre a dança, frequências sonoras e cura em diálogo com seus interesses pela astronomia. Vem pesquisando as ondas rádio eletromagnéticas emitidas pelos astros, a tecnologia quântica do som junto a ativação de frequências de cura no corpo humano e a frequência 432Hertz – a vibração da natureza. Vem mapeando a reverberação de frequências terapêuticas nas sensações e movimentos corporais, expandindo a pesquisa da movimentação de energia no campo sutil para a movimentação de energia no corpo físico.
www.vivirochajones.com.br
CLAU ANIZ é artista sonora, compositora, pesquisadora, técnica de som e produtora musical de Fortaleza, Ceará. Atua desde 2015 em diferentes manifestações artísticas, passeando entre trilhas sonoras para cinema, composições de sonoplastia para dança e teatro, instalações sonoras e performances musicais. Lançou em 2018 o álbum “Filha de mil mulheres” e, em 2019, o single “Iuá Uru”. Atualmente está em fase de produção do seu segundo álbum, intitulado “Mácula”, com lançamento previsto para junho de 2025. É mestre em artes pela Universidade Federal do Ceará e possui especialização nas áreas de produção musical e áudio para TV e cinema pelo instituto IATEC.
KAYE DJAMILIA é artista multilinguagem e arte-educadora, formada em Teatro pela Universidade Federal do Ceará e em Circo pelo Co-laboratório em Artes Circenses. Com atuação no teatro, circo, dança, audiovisual e arte sonora, vê as múltiplas linguagens que percorre como plataformas para materializar sua poética e suas obsessões criativas.
LARA LIMA é artista sonora, visual e pesquisadora do corpo. Investiga caminhos de criação com modos transversais de construção de performatividades e arte sonora. Sua produção artística permeia composições de sonoplastia para teatro, obras audiovisuais e performances musicais. Sua pesquisa e experimentações buscam explorar as relações de corpo/voz, estado de presença, gesto e produção de sonoridades por instrumentos não convencionais, paisagem sonora.
LORETA DIALLA é atriz, diretora, dramatugista, artista sonora e pesquisadora. Atua de modo transversal nas linguagens do teatro, música, cinema e audiovisual. Integra o grupo Teatro Máquina e o do coletivo de música e arte sonora feminina Aterra Flecha. Se dedica à práticas artísticas transdisciplinares dedicadas as dramaturgias e performatividades expandidas do corpo na cena com foco nas guias de investigação: Voz, Escuta, Palavra e Presença.
MARTA AURELIA é atriz, cantora, experimentadora e investigadora do corpo, da voz e da presença na encruzilhada entre vida e arte. Artista multilinguagem, atua em teatro, música, cinema, performance, arte experimental e arte sonora. Atualmente, tenta equilibrar-se em trabalhar, simultaneamente, com projetos autorais e não autorais.
THAIS DE CAMPOS é multiartista, realizadora audiovisual e musicista experimental. Faz parte do coletivo de música e arte sonora feminina Aterra Flecha, da produtora audiovisual Caratapa e gestora do Acervo Medusa, atuando também como diretora de arte e figurinista em diversos projetos de cinema no Brasil.
www.thaisdecampos.com
1. Vídeo de Kaye Djamiliá
2. Ilustração de Yuri Yamamoto
3, 4, 6, 8 e 10. Fotografias de Luana Diogo
5. Colagem de Clau Aniz
7. Vídeo de Lara Lima
9. Desenho de Amrita Jones

